fonte: olhar digital
A quarta edição da Campus Party não poderia deixar de lado um dos assuntos mais comentados nos últimos tempos: a Geração Interativa ou, como a maioria costuma chamar, a Geração Y. No Palco Principal, nesta quarta-feira (19), o debate sobre os nativos digitais levou Ivelize Fortim, professora da Faculdade de Psicologia e do Curso de Jogos Digitais da PUC-SP; Volney Faustini, empresário, consultor e administrador que organizou e editou o e-book "Filhos seguros, pais tranquilos"; e Rene Silva, morador do Complexo do Alemão e editor do jornal Voz da Comunidade, que durante a invasão no Morro do Alemão, no fim do ano passado, cobriu toda a operação por meio de posts no Twitter. Rene era o único representante legítimo da Geração Interativa no meio dos outros participantes, por isso foi o grande destaque do debate. O jovem contou como, aos 11 anos, começou a reportar os acontecimentos mais relevantes da Comunidade do Alemão ao criar um jornal impresso com o nome de "Voz da Comunidade". Ele participava de um Jornal Escolar, apesar do projeto só aceitar crianças acima dos 13 anos, e resolveu criar um jornal que levasse informações necessárias aos moradores da região. "No começo foi difícil porque a família não entendia muito o que eu fazia na rua até tarde, mas aos poucos eles foram vendo que o trabalho era sério", conta. Com a operação da tomada do Complexo do Alemão no fim do ano passado, Rene começou a publicar notícias no seu Twitter pessoal, que já tinha cerca de 2 mil seguidores, mas o pessoal pediu para ele colocar as informações direto no perfil do Voz da Comunidade. "No começo as pessoas achavam que era só um grupo de adolescentes por trás do Twitter, mas depois que alguns famosos começaram a divulgar [a autora de novelas Glória Perez, por exemplo], a história ficou séria". O jornal, atualmente, é composto por cinco pessoas sendo que Rene, de 17 anos, é o mais velho da turma. Depois da repercussão que o Twitter do Voz da Comunidade teve, o Jornal Nacional montou um estúdio para os aspirantes a jornalistas e Rene ganhou uma bolsa para estudar jornalismo na Universidade Estácio de Sá. O debate rendeu muitos questionamentos sobre o poder de autoridade que os jovens tem com a internet e, quando Rene foi questionado sobre como ele sabia o que era relevante ou não para passar para a comunidade, ele respondeu: "A gente sabe o que é bom, quando vemos muita coisa ruim acontecendo". Todos os mediadores dos debates chegaram à conclusão de que o bom uso da internet existe e cabe aos jovens desta Geração Interativa iniciarem projetos como o de Rene. "Os pais e educadores precisam conhecer o mundo em que estes jovens estão inseridos, precisam se conectar para poder direcioná-los a coisas boas. Eles, principalmente, os educadores, precisam ter humildade para entender que agora os jovens sabem de algo a mais e que eles podem ensinar também", disse Ivelize. O morador da Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio de Janeiro, foi considerado por unanimidade um jovem que soube usar a internet de forma positiva. O jornal, que antes tinha mil exemplares em preto e branco, agora terá 5 mil exemplares coloridos e vai ser distribuído nas 14 comunidades do Complexo do Alemão. Além de atualizar a população dos principais acontecimentos, ele tem feito projetos para incentivar as crianças a consumir conteúdos mais importantes nas Lan Houses, bem como contratar freelancers de 14 a 17 anos para começarem a carreira de jornalista no Voz da Comunidade. O trabalho de Rene pode não agradar a todos, apesar de que até traficantes do morro o incentivaram a continuar com o jornal, mas é indiscutível seu mérito como pessoa. Se sobressair em ambiente hostil como o que ele vive não é comum, ainda mais quando o que ele faz é ajudar sua comunidade a se tornar um lugar melhor. |
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